sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

«A revitalização do rio Maior viria melhorar a qualidade de vida e a economia ribeirinha»

In Região de Rio Maior, 25 de Fevereiro de 2011:

«Sessenta pessoas, aproximadamente, participaram no anunciado debate «O rio Maior:estado ecológico e suas potencialidades», promovido no último domingo à tarde, dia 20, no salão da União Recreativa Sanjoanense, em S. João da Ribeira, pelo Movimento Cívico «Ar Puro».

Contando com abordagens às problemáticas desde curso de água e da sua envolvente por banda de associações convidadas, como Paulo Constantino da Protejo, e Valdemar Gomes do Clube do Mato, bem como de Carlos Frazão Correia, vice-presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, os participantes começaram por beneficiar de uma descrição do percurso do rio desde a zona da nascente até desembocar no Tejo, de que se encarregou um dos associados do «Ar Puro», Américo Cardoso, de Arrouquelas, que se apoiou na projecção de uma série de imagens.

Moderou o debate Maria Emília Irmler, nascida em S. João da Ribeira tal como os pais e os avós - a família Paula. O pai era Joaquim Paula (...)

Já se sabe que os moradores de S. João da Ribeira e ali daquela zona andam muito preocupados, já há anos, com o estado de degradação do rio Maior.

"Estamos preocupados", confirma Maria Emília Irmler ao Região de Rio Maior.

"Eu penso que não podemos simplesmente ignorar aquilo que está à nossa volta e as mudanças. Tenho quase sessenta anos e conehci o rio desde criança, quando lá tomava banho tinha os meus 7 ou 8 anos de idade, e a transformação do rio e de tudo que está à volta dele não pode ser ignorado, tantas são as coisas que que se estão a modificar com uma rapidez! E sempre no sentido da destruição...", diz esta senhora.

É claro que o problema começa a montante e não em S. João da Ribeira. Maria Emília Irmler concorda. "sim, o problema é do rio em si, desde a nascente à Vala da Asseca e vai continuando por aí abaixo.

Os problemas daqui têm a ver sobretudo com as culturas intensivas, a produção animal intensiva e a falta de cuidado que deixou de haver com o rio", aponta. Mas acredita que há possibilidades de resolver, pelo menos parcialmente, estes problemas. "Eu penso que é essa a vontade das entidades oficiais, também da nossa Câmara e das Juntas de Freguesia. Penso que não é só uma vontade deste movimento mas uma vontade das populações e das pessoas que estão à frente das instituições. E é em primeiro lugar uma vontade de olhar bem para as coisas, refletir e ver onde é que podemos mudar alguma coisa", considera. "As mudanças não são milagres, não se fazem por milagres, fazem-se com a boa vontade das pessoas, fazem-se com estudo, com reflexão e com a participação de todos. E nós acreditamos que todos temos essa vontade!", conclui Maria Emília Irmler.

Valdemar Gomes historiou o percurso já de 10 anos de preocupações ambientais do Clube do Mato e advertiu: "O ambiente só vai ser respeitado se as pessoas sentirem que fazem parte dele".

Nazaré Varela - a Nazaré Varela que nos habituámos a conhecer no Grupo de Danças e Cantares de S. João da Ribeira -, senhora de grande saber e cultura, dispnesou-se de incómodos de saúde e andou pela Torre do Tombo à procura de fundamentos para a história da sua freguesia e do rio... Maior. para um livro que tem andado a escrever. E contou coisas, de documentos comprovativos na mão, de pasmar os mais novos e provavelmente a maior parte dos de meia-idade!

Realmente, já poucos se devem lembrar que os barcos subiam o rio até S. João da Ribeira para carregar madeira! A própria Nazaré Varela ainda chegou a andar num deles quando tinha 9 anos de idade!

O sável, que é peixe do mar, subia o rio para a desova e os pescadores vinham e barco atrás dele, está registado num documento de 29 de Março de 1758, mas agora...

Na carta de Correição de João Teixeira Albernaz, datada de 1640, o rio Maior entroncava no Tejo, mas em Santarém, não na Azambuja.

Em tempos recuados, o rio só era Maior da Calhariz para baixo, porque resultava da junção, naquela ponto, do rio S. Juan da Ribeira - que era assim que se chamava desde a nascente (Jogadouro - Bocas) até ali, com a ribeira das Alcobertas e a de Almoster, e ia dar à salgada na Azambuja.

Enfim, foi um desfiar de créditos sanjoanenses que é preciso valorizar.

Alguém referiu que apesar do estado do rio, ainda há uqem dele tire partido económico, apanhando o lagostim do rio, muito apreciado em Espanha onde é transformado em paté... Uns bicharocos que para Paulo Constantino, na verdade estão a mais no rio Maior e não só, porque não pertencem à fauna autóctone.

O rosto da Protejo fez uma explicação alargada e pormenorizada do papel da sua associação na defesa da bacia hidrográfica do tejo que, bem se sabe, é hispano-lusitano e está sujeita a transvases cada vez mais volumosos para a economia agrícola espanhola, com enorme prejuízo para as populações ribeirinhas e para Portugal que dispõe de cada vez menos água do tejo. Para ele, toda a comunidade terá que se envolver na implementação do futuro Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Tejo.

Carlos Frazão Correia, embora reconehcendo que o estado do rio está longe de ser bom, fez notar que já esteve pior e apontou os vários fatores de poluição ao longo das décadas, que foram sendo atenuados, prevalencendo agora a das pecuárias. A revisão do PDM e o Plano Estratégico para os próximos vinte anos prevêem que todo o concelho de Rio Maior deixe de estar de costas voltadas para o rio, a exemplo do que se passou com o Mondego e o Lis, por exemplo.»